quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Sob meus lençóis

Contemplo seu sono de criança, fascinado por cada respiração...
Analiso os detalhes de seu corpo âmbar, aninhado perto do meu peito.
A delicadeza de seus traços me tira o ar. Não sei como chama mais a minha atenção. Com o brilho dos seus olhos ou com a pureza do seu ressonar.
Sob meus lençóis, dois momentos. A menina vira mulher...mas a mulher também se transforma em menina...
E no seu sonho de menina, em que será que pensa?
Pensa nos palcos iluminados por onde quer passar?
Pensa nas galerias cheias de comentários e suposições?
Talvez pense numa vida simples, com tudo o que mais gosta e na liberdade de ser criança...
Fora do seu sonho eu continuo aqui...
Divagando sobre o desenho das suas costas, o contorno dos seus seios, o vale da sua lombar...
Sentir sua respiração próxima ao meu corpo, me agita e me tranquiliza.
As emoções se misturam dentro do meu peito.
Mais uma vez o silêncio se faz presente em nossa relação.
Um silêncio cheio de pensamentos, cheiros, dúvidas, emoções...
De repente um pensamento cruza as brumas do nosso silêncio e me invade a alma...
Que bom te sentir sob meus lençóis...

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Multi etnia

Sou negro, sou índio, sou mulato.
Meu coração é multi étnico, nas minhas veias corre o sangue de todos os povos.
Sou a união de credos e crenças.
Sou ritos e culturas diversas.
Sou brasileiro.
Assim como o negro, que nasce e morre sendo negro, eu sou e sempre serei brasileiro.
E isso não é um fardo. Pelo contrário, vejo isso como uma bênção.
Sou literatura de cordel, sou samba-rock, sou maracatu.
Sou teatro, sou circo, sou palhaço, sou artista.
Não importa quem está no "poder", quem senta na cadeira com o espaldar mais alto.
Pois eles não podem me tirar o PODER, de ser único, diverso, concreto, b r a s i l e i r o.
Os governos vão mudando, os políticos envelhecendo.
Eu continuo jovem e bonito.
Eu sou o Brasil que ainda vai amadurecer e rir de tudo o que já viveu.
E seus jovens filhos vão se orgulhar de poder dizer:
- Sim, eu sou brasileiro!!!
Em alto e bom som.
E o mais importante. Num lindo e claro português.
Uma revolução, uma catástrofe, um genocídio?
Não sei como e nem quando vai acontecer.
Mas um dia a consciência vai surgir.
E eu, brasileiro, posso estar velho e cansado, mas vou sorrir e agradecer...

domingo, 21 de outubro de 2007

Concepção

No fundo dos seus olhos
Pude ver
O quanto de mim
Há em você.

E o medo que me dá
Agora em perceber
Que dentro de você
Já posso conceber...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Cinderela

Um dia eu te vi, em meio a luzes, cheiros e sensações.
Você me olhou de um jeito, como se pudesse enxergar minha alma...
E eu, sem poder reagir, me rendi aos seus prazeres, sem ao menos saber seu nome...
Felizmente nossos encontros se repetiram, recheados de longas conversas, longos silêncios e uma vontade constante...
Mas um dia, você foi embora...minha Cinderela não deixou o sapatinho de cristal para trás...foi embora, da mesma maneira que apareceu...
Minha Cinderela sabe que eu não tenho a mínima vocação para Príncipe e percebendo que não viveria um conto de fadas, fugiu...
Não a culpo.
Mas doeu...a distância...a falta das conversas...o olhar que invade a alma...
Como não sou Príncipe, não fiquei esperando a fada madrinha.
E que bom que a minha Cinderela, tentou, mas não conseguiu se esconder...
Cinderela, não fuja mais...
Nossos encontros casuais, tornaram-se constantes e nós não fizemos nada para que isso acontecesse...
Nossos sentimentos mudaram...e nós não combinamos nada disso...
Nossa vontade de ficar junto aumentou...e nós nem tínhamos percebido...
Cinderela...nosso "conto de fadas" não precisa de roteiro...ele acontece naturalmente...

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Emocionante

SE EU QUISER FALAR COM DEUS
Gilberto Gil
1980

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar

Hoje ouvi uma versão dessa música na voz da Elis, mas em capela...sozinha...ela e a canção....

Mais que emocionante...

Reencontro

O coração acelera, a respiração fica estranha.
Por que reencontrar alguém que já fez parte intensamente da nossa vida é tão perturbador?
Um misto de sensações. Medo, alegria, insegurança, saudade...
Vontade de se ver de novo. Medo da reaproximação.
A teia da vida é fascinante.
Duas pessoas se separam, vivem diversas experiências, ficam anos sem se ver. Recebem notícias, ficam felizes com o progresso da outra pessoa. Tudo isso de longe, sem saber por onde essa pessoa anda.
De repente, os caminhos se cruzam novamente. E por ironia do destino, num momento em que as duas pessoas estão se questionando sobre uma série de coisas.
Fico assustado e maravilhado com essas "brincadeiras" do nosso caminho.
Pode não acontecer nada. Pode acontecer tudo.
Subo no alto da minha montanha e pergunto: Será?
Não recebo respostas.
Fico quieto em meus pensamentos.
Minha vida em turbilhão, me chacoalha mais uma vez.
O que eu posso fazer?
Continuar navegando ao sabor do vento.
Afinal, o vento sempre acaba me trazendo a resposta das perguntas que faço do alto da minha montanha...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Natureza

Hoje levei um grupo de alunos ao zoológico.
E uma das coisas em que pensei durante o dia foi na sabedoria da natureza.
Como cada animal tem seu corpo e seus hábitos adaptados ao ambiente em que vive e às necessidades que sofre. Os camelos com seus reservatórios de água, o tigre-branco, como a neve que o rodeia.
Será que podemos pensar assim com relação aos seres humanos?
Será que é por isso que quem já sofreu muitas vezes, cria escudos e defesas?
Pode ser...
Mas nós, diferente dos animais, nos adaptamos com o tempo.
Consequentemente, pessoas que vivem experiências diferentes, terão adaptações diferentes, mesmo sendo da mesma espécie...
Fora que o ser humano é tão complexo, que mesmo pessoas que passam pelas mesmas coisas, criam defesas diferentes.
Tem os que sofrem uma única vez, e carregam essa mágoa e o medo de sofrer novamente, para sempre.
Tem os que sofrem várias vezes e não hesitam com a possibilidade de sofrer novamente. Particularmente eu os invejo.
Existe quem nunca sofreu de verdade, mas faz de tudo para mostrar o contrário.
Não posso dizer que sofri uma única vez, mas acho que me encaixo no primeiro grupo.
Tenho um sério problema em dissolves mágoas.
Mas às vezes a gente baixa a guarda e consegue viver bons momentos. Momentos sinceros.
Ficar conversando, confortando alguém que pediu pelo nosso carinho.
O nosso "meio-ambiente" às vezes nos torna duros demais e acabamos abrindo mão de bons momentos.
Prometo que vou fazer o possível para baixar o escudo e me permitir mais.
Afinal, a natureza é sábia e as adaptações são necessárias para o fortalecimento da espécie.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Estranho

Sou estranho. Rio sem motivo, me entristeço sem motivo.
Sou o maior dos libertários em alguns momentos, noutros careta, careta, careta...
Mudo de humor como muda o clima de um dia típico em São Paulo, chovo, faço calor, esfrio, tremo, esquento, chovo de novo.
Definitivamente sou estranho.
Fico alucinado com as traições que outras pessoas sofrem, mas as que eu sofro...me paralisam...não tenho reação.
Deveria ser o momento de estourar, sobrar prá todos os lados, botar prá quebrar...
Me fecho e fico olhando as coisas acontecerem à minha volta.
Por quê? Essa pergunta martela minha mente dias e noites...
Por quê não falo nada? Por quê me fizeram isso? Por quê não existe lealdade, no bom e velho significado da palavra?
Fidelidade? Aboli da minha vida e não me faz falta.
Agora LEALDADE...essa sim...admiro quem ainda preza por ela e não abre mão dessa qualidade em outra pessoa.
Beijinho no rosto e tapinha nas costas, totalmente descartáveis, se ela, a LEALDADE, não estiver no mesmo ambiente.
Penso em tudo isso e continuo estagnado em minhas atitudes.
Até quando? Não sei...
Definitivamente sou estranho...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Olhos Azuis

No brilho dos teus olhos
O azul do mar me fascina
Me vejo menino, criança
Brincando com a menina
Dos olhos, que brilha
E cativa

Percebo, porém
Que a menina é mulher
Sorriso que inspira
Boca que convida

No que me prendes?
Abraço de armadilha
Por que não fujo?
Já me entreguei à tempos
Sou caça ou caçador?
Não sei...

Só sei que distância
Aqui dentro não existe
Perto, longe?
Hoje, amanhã?
Uma certeza...
Para sempre.

Amor...

Num certo dia, trabalhando numa aldeia Guarani, um aluno do grupo que eu monitorava perguntou à um dos índios da aldeia:

"Como se fala AMOR em guarani?"

O índio, detentor de uma sabedoria que talvez nem ele saiba que possui, respondeu:

"Os Guarani não tem uma palavra no seu vocabulário para definir o AMOR. Para os Guarani, o AMOR NÃO SE FALA....O AMOR SE DEMONSTRA...com atitudes, com gestos, com pensamentos....."

Se nós, os "civilizados", tívessemos o mesmo pensamento, com certeza, agíriamos de outra forma...
De que me vale escutar de alguém o quanto essa pessoa me ama, se essa mesma pessoa, não age de acordo com o que me diz? Prefiro o silêncio de um olhar, a simplicidade de um abraço e a graça de um sorriso....
Infelizmente, a hipocrisia anda reinando no nosso mundo....
Muito se fala, pouco se faz....
Sonho com o dia, em que as pessoas serão sinceras o bastante para admitir erros, culpas e dúvidas....
O dia em que demonstrar o AMOR VERDADEIRO, seja mais importante que palavras vazias jogadas ao vento.....